sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Alfabetização Neurocientífica

Apesar dos avanços nas pesquisas e das grandes descobertas das Neurociências, além dos esforços na divulgação científica na área, nos últimos anos, a maior parte deste conhecimento continua inacessível à população. Adultos e crianças mostram pouco interesse por assuntos relativos a distúrbios do Sistema Nervoso, consumo abusivo de drogas e atividade motora, indicando, a necessidade de ações educacionais neste sentido (HERCULANO-HOUZEL, 2000 e ZARDETTO-SMITH, 2000).
Acredita-se que um dos motivos que dificulta o processo ensino- aprendizagem e o interesse dos alunos, principalmente no que se refere ao corpo humano, seja a discordância entre as perspectivas e necessidades e o conteúdo que é exigido como importante. O conteúdo sobre o Sistema Nervoso, nas grades curriculares e nos livros didáticos, é apresentado no 8º ano do Ensino Fundamental e no 2º ano do Ensino Médio, na parte de fisiologia dos sistemas do corpo humano, exclusivamente ou de forma comparada à fisiologia de outros animais. A simples memorização de tópicos como as divisões do Sistema Nervoso, a nomenclatura das regiões anatômicas do encéfalo e suas funções, a transmissão sináptica ou o ato reflexo, sem corresponder às suas curiosidades e perspectivas, muito provavelmente não despertará seu interesse pelo assunto, nem facilitará seu entendimento do conhecimento básico para a aplicação na sua vida.
Alguns tópicos do conteúdo programático sobre o Sistema Nervoso apresentam grande complexidade e dificuldade de serem ensinados, pois exigem alta abstração conceitual _ uma vez que, muitas estruturas não são visíveis e palpáveis diretamente _ e necessitam de integração de conhecimentos envolvendo a Física e a Química. Esta dificuldade também é encontrada no ensino superior tanto nos cursos das áreas Biomédicas como nas Licenciaturas em Ciências e Biologia, e consequentemente muitos professores não possuem domínio e segurança para ensinar o conteúdo e despertar o interesse dos alunos. Campagna et al (2008), visando facilitar o processo ensino-aprendizagem sobre o Sistema Nervoso propõem a utilização de modelos didáticos, produzidos no intuito de auxiliar a visualização de conceitos abstratos, como a evolução, a transmissão sináptica e a ação de drogas psicotrópicas e a integração de conteúdos de Anatomia e a Física.
Os resultados de diferentes autores sugerem que no ensino dos conteúdos sobre Corpo Humano é priorizada a memorização de tópicos de anatomia e fisiologia, de forma fragmentada e descontextualizada. Sem aprofundar as dicussões das implicações culturais, sociais e históricas. A análise das concepções de saúde numa coleção de livros didáticos de Ciências para o Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), indicam que predominam a perspectiva mecanicista/biologicista pautada nos aspectos anatômicos/fisiológicos. É dada maior ênfase nos condicionantes biológicos e não nos condicionantes psicossociais, culturais, sócio-econômicos e ambientais, relacionados à saúde. Encontra-se em maior frequência no texto, enunciados explicativos/descritivos, sendo menos frequente enunciados argumentativos de forma contextualizada, problematizando ações cotidianas. Desta forma, não proporcionando uma aprendizagem significativa nem possibilitando a alfabetização científica para os alunos (MARTINS e FREITAS, 2008; DELIZOICOV, 1995).
Na revisão da literatura científica realizada para este trabalho, foram encontradas poucas referências de pesquisas, analisando especificamente como o tema Sistema Nervoso é abordado na sala de aula.
Na perspectiva da alfabetização científica, o processo ensino-aprendizagem sobre o Sistema Nervoso, consistindo de uma abordagem que privilegie a reflexão crítica a cerca do seu contexto-sócio cultural poderia contribuir para a compreensão tanto dos mecanismos do funcionamento saudável do cérebro e sua conexões, como dos processos relativos às doenças neurológicas e distúrbios do comportamento. Assim possibilitando tomar decisões esclarecidas quanto a atitudes saudáveis para o bom desenvolvimento e funcionamento do Sistema Nervoso e desenvolver postura crítica diante de mitos, preconceirtos e questões polêmicas e éticas.
Como o Sistema Nervoso é abordado em sala de aula? Quais as principais dificuldades de alunos e professores sobre o tema? Que recursos e metodologia são utilizados? É possível alcançar a alfabetização científica? Como o professor pode superar as dificuldades?

Fabíola Gonzaga de Freitas, Especialização Ensino de Ciência, IBRAG, UERJ

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